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Café Society + 16 resenhas de Woody Allen

O diretor volta à Hollywood dos anos 30 e 40, e eu revisito a carreira dele

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Bobby (Jesse Eisenberg) vive tão espremido, em Nova York, entre os pais que vivem brigando e o irmão gângster (o ótimo Corey Stoll), que nem consegue enxergar uma alternativa para sua vida. Manda-se então para Los Angeles, onde seu tio Phil (Steve Carell) é um agente que gerencia metade dos astros e estrelas do cinema. E, depois de tomar muito chá de cadeira (o tio é um tipo curto e grosso, e não quer saber de parentes encostando nele), arruma um emprego na agência. Bobby revela uma habilidade maior que a esperada para lidar com os egos da clientela. E, assim como Vonnie (Kristen Stewart), a secretária de seu tio, que se incumbe de ser sua guia na cidade, ele é singularmente crítico e livre de ilusões  sobre essa Hollywood de fábula dos anos 30 e 40 em que se passa Café Society, o novo filme de Woody Allen. Bobby e Vonnie, vão, claro, se aproximar – e então se distanciar, e se aproximar de novo, numa oscilação que tem a ver não apenas com o amante secreto dela, como também com as escolhas mais fundamentais que ambos irão fazer. Paixão ou segurança, o desconhecido ou o familiar, o superficial e confortável ou o profundo e difícil? Tanto Bobby como Vonnie passarão os anos seguintes experimentando diferentes caminhos, e remoendo os caminhos que não tomaram.

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Café Society é Woody Allen no máximo da sua ambivalência a respeito de um mundo que ele idealiza e rejeita, e ao qual ao mesmo tempo pertence e não pertence. Como em Celebridades ou Blue Jasmine, ele vai fundo no desprezo por veleidades como fama, sucesso, dinheiro e beleza, mas sofre de uma nostalgia conflituosa pela velha Hollywood do glamour – que, em essência, não é muito diferente da Hollywood sem glamour de hoje no negócio a que se dedica, o de cultivar aparências. Woody está simultaneamente acima e abaixo desse mundo. Parte dele sabe disso: quando Bobby retorna a Nova York e abre o clube noturno que dá título ao filme, frequentado por artistas, gângsters e socialites, ele sem dúvida está mais no seu elemento do que antes. Mas o vazio do ambiente é o mesmo, e a vida que ele faz com uma outra Vonnie (Blake Lively), bem menos inquieta que a Vonnie original, é quase que uma farsa. O destino de Bobby, enfim, é sofrer com a insatisfação e com as coisas incompletas.

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O que, claro, é um destino excelente para um artista (Bobby, evidentemente, é um dos muitos alter egos que Woody já criou em seus filmes): saciedade e conformismo não são bons fertilizantes para uma vida genuinamente criativa. Café Society é mais honesto do que Celebridades ou Blue Jasmine, porque admite que parte da infelicidade de Bobby é culpa dele mesmo, ou de sua falta de coragem ou competência para se tornar quem gostaria de ser. Mas, se falta a Café Society a grandeza de Match Point, aquela capacidade formidável de mostrar como somos autores das nossas próprias tragédias, é porque ele preserva uma veia melindrada que às vezes aparece nos filmes de Woody – uma implicância meio mesquinha com a vida e com a pequenez das pessoas, e um humor muito frequentemente feito às custas dos personagens.

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Mais até do que o próprio Woody, é Jesse Eisenberg quem compreende esses ânimos opostos que convivem no diretor: Jesse, que já foi alter ego de Woody antes, em Para Roma, com Amor, é um tremendo ator (podem falar mal dele em Batman Vs. Superman à vontade; não estou nem aí) e, mais importante, é um ator de inteligência e discernimento. Aqui, ele usa sua complementação excepcional com a Vonnie cheia de reticências de Kristen Stewart (que está matadora no papel) para, mais do que interpretar, documentar a longa transição de Bobby da ingenuidade para a amargura. Preste atenção na cena final, em que tanto Jesse como Kristen estão em evidência: eles conseguem compor um desfecho grandioso nas coisas que sugere – e na maneira como, gentilmente, revelam coisas sobre o espírito que anima essa história que Woody mesmo provavelmente detestaria pôr em palavras. São eles dois, quase sempre, que transformam em força as fraquezas de Woody.


Clique nas fotos abaixo para ler as resenhas de 16 filmes de Woody Allen, escritas à época dos seus lançamentos:


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Celebridades
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Poucas e Boas
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Trapaceiros
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O Escorpião de Jade
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Igual a Tudo na Vida
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Melinda e Melinda
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Ponto Final – Match Point
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Scoop – O Grande Furo
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O Sonho de Cassandra
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Vicky Cristina Barcelona
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Tudo Pode Dar Certo
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Meia-Noite em Paris
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Para Roma com Amor
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Blue Jasmine
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Magia ao Luar
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Homem Irracional

Trailer


CAFÉ SOCIETY
Estados Unidos, 2016
Direção: Woody Allen
Com Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell, Jeannie Berlin, Corey Stoll, Ken Stott, Parker Posey, Blake Lively, Paul Schneider, Anna Camp, Sheryl Lee
Distribuição: Imagem Filmes

2 comentários em “Café Society + 16 resenhas de Woody Allen”

  1. Woody Allen enquanto ator, suas interpretações soam despretensiosas ou até mesmo repetitivas sem retirar seu mérito para veia cômica. Quanto na direção impossível não viajar a Nova York através da tela e quando partiu para outras cidades a vontade é que continue migrando para outras localidades mas, sempre, esperando que retorne a cidade natal. Um diretor sem medo de arriscar e que é impossível não comparar o último filme ao antecessor (ou vários outros antecessores). Vai do céu ao inferno, do sucesso ao fracasso, do genial ao banal. Além de conseguir tirar grandes interpretações quando achamos que aquele ator não teria mais o que representar (Colin Farrel, por exemplo), e, principalmente, sabe explorar o melhor das interpretações femininas que não por acaso todas indicadas ao Oscar em seus filmes venceram o premio (pelo menos Diane Keaton, Penélope Cruz e Cate Blanchet). Café Society não está entre os melhores da sua carreira assim como Jesse Eisenberg não cumpre bem seu papel, nem por isso tiram o brilho do filme e, assim, fico na expectativa pelo próximo filme de Woody Allen para assim perceber que só tentando é que acertamos de novo.
    Obs.: Isabela, já que falou dos filmes recentes de Woody Allen, senti falta da resenha de “Você Vai Conhecer O Homem Dos Seus Sonhos” de 2010.

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