“Patti Cake$”: uma rapper improvável (e adorável)

É por ótimas razões que este filme de estreia virou um sucesso espontâneo

Tem gente que não gosta de rap por princípio (como pode?), e nesses casos talvez fique difícil ao espectador apreciar a fofura de Patti Cake$, um filme de estreante que pega todos os clichês da superação explorados desde Rocky – Um Lutador até Preciosa e os transforma em algo vivo, novo e gracioso. Patti Dombrowsky (interpretada pela australiana Danielle Macdonald, uma atriz adorável) tem 23 anos e um desses empregos que marcam a pessoa para o fracasso – meio-período no balcão de um bar escuro e mal-cheiroso da sua vizinhança deprimente de Nova Jersey (o estado que, a julgar pelo cinema, já é todo ele o lugar mais deprimente dos Estados Unidos). Patti se esforça o quanto pode. Mas tem uma avó cheia de doenças e sem nenhum seguro-saúde. O pai dela é uma lembrança distante. A mãe vive bêbada, é grossa e amarga – mas pelo menos ficou lá para cuidar de Patti quando o marido se mandou. Tudo na vida de Patti é detonado: a casa em que ela mora, o carro, o cabelo. Ela é branca e bem gorda, e desde criança aguenta os meninos do bairro chamando-a de Dumbo. Ela prefere que a chamem de Killa P: o sonho de Patti e de seu melhor amigo Jheri (Siddhart Dhananjay), um balconista de farmácia paquistanês, é fazerem fama e grana como rappers e botar Nova Jersey no retrovisor do carro para sempre. Ninguém leva os dois a sério, porque ninguém os ouve de fato – mas a verdade é que o flow de Patti é, sim, muito inspirado (todas as letras são do diretor do filme, Geremy Jasper, que cresceu nas mesmas paradas de seus personagens). Quando, durante um show caído, Patti conhece Basterd (Mamoudou Athi), um rapaz negro que é quase mudo de tão calado e posa de músico anarquista, ela tem uma iluminação: Basterd é a peça que falta para o seu plano. E não é que é mesmo?

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Filmado de forma a parecer feito na hora, do jeito que deu, Patti Cake$ é um bocado mais refinado do que se anuncia: Geremy Jasper já dirigiu vídeos para Florence + The Machine e até Selena Gomez, e tem um senso admirável de enquadramento e de ritmo, além de uma energia e uma vibração cheias de calor. Ele faz o filme evoluir e crescer, e não por acaso Patti Cake$ chamou tanto a atenção e já virou um cult espontâneo. Mais um acerto nas coproduções do brasileiro Rodrigo Teixeira (de A Bruxa, Frances Ha, Melhores Amigos, Me Chame pelo seu Nome etc. etc.).


Trailer


PATTI CAKE$
Estados Unidos, 2017
Direção: Geremy Jasper
Com Danielle Macdonald, Siddhart Dhananjay, Mamoudou Athi, Cathy Moriarty, Bridget Everett, McCaul Lombardi
Distribuição: RT Features

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