A diferença entre iludir e enganar
Uma brincadeira de ambições modestas, Truque de Mestre, de 2013, virou um sucesso inesperado na bilheteria: era tão deliciosamente absurda a história dos quatro mágicos meio fracassados que, reunidos por uma organização misteriosa, viravam os gigantes do showbiz Quatro Cavaleiros, e eram tão bons os atores e as ilusões que eles praticavam, que o público se encarregou ele mesmo de descobrir o filminho do diretor francês Louis Leterrier e transformá-lo em um acontecimento. Uma continuação sempre fora inevitável: Leterrier já tinha testado o custo-benefício de séries baratas com Carga Explosiva 1 e 2 (o 3 e o 4 ficaram com outros diretores), e deixou vários ganchos armados para uma sequência.
A saber: depois de encenar um espetacular roubo a banco que era para ser de mentirinha mas se revelava verdadeiro, e de surripiar parte da fortuna do bilionário mau-caráter Arthur Tressler (Michael Caine), os Quatro Cavaleiros estão há um ano fingindo-se de mortos, na tentativa de despistar o FBI e seus muitos inimigos. Mas Atlas (Jesse Eisenberg), Merritt (Woody Harrelson) e Jack (Dave Franco) estão ficando impacientes para voltar à ativa (Isla Fisher caiu fora do elenco, e seu lugar agora é tomado por Lizzy Caplan). Atlas, em particular, acha que deveria ser ele o mentor do grupo, e não Dylan (Mark Ruffalo), o agente federal que se vale de seu cargo para tumultuar as investigações sobre os Quatro Cavaleiros dentro do FBI. Atlas toma então a dianteira, disparando um crescendo de reviravoltas insanas que mandam o grupo de Nova York para Macau e de lá para Londres, e que de novo envolvem Arthur Tressler e seu adversário Thaddeus Bradley (Morgan Freeman), agentes do FBI variados e novos inimigos como o jovem milionário interpretado por Daniel Radcliffe.
As mágicas do grupo são novamente fabulosas (suponho que conte pontos, aí, a colaboração de David Copperfield como co-produtor) – é um arraso um truque com uma carta de baralho envolvendo todos os Quatro Cavaleiros (apesar de a carta ser digital), e achei especialmente linda uma chuva do chão para o céu, em Londres, comandada por Atlas. Como no primeiro filme, também, não convém examinar detidamente o roteiro: é um mistério como os Cavaleiros conseguem reunir tantos recursos para planejar e ensaiar suas ilusões estrondosas em tão pouco tempo. Isso não deveria importar, porém, já que esse é o pacto que faz qualquer espetáculo de mágica funcionar; o ilusionista anuncia que vai iludir a plateia, e ela concorda em se deixar iludir.
O que falta a O 2º Ato é o respeito ao ritmo da prestidigitação que Louis Leterrier demonstrava no primeiro filme. Para um bom número de mágica, são essenciais o buildup – o jogo de atiçar a expectativa da plateia a cada passo do truque – e, depois, o tempo para que ela saboreie o deslumbre com a ilusão que acabou de ser apresentada, e sinta-se agradecida por ter sido tão bem enganada. Substituindo Leterrier, entretanto, o diretor John M. Chu passa as duas horas desta continuação atropelando esses tempos: Chu corre feito louco, emendando um truque no outro e tirando reviravoltas de dentro de reviravoltas, como se tivesse medo de que um pouquinho de pausa ou reflexão pudessem quebrar o encanto. Tudo que ele consegue, claro, é o contrário: quanto mais Chu joga fumaça na cara da plateia, mais a implausibilidade dos truques e os furos do roteiro se tornam aparentes. O 2º Ato não falha em divertir. Mas deixa um sabor diferente – como se a plateia, em vez de ser iludida, tivesse sido simplesmente ludibriada.
Trailer
TRUQUE DE MESTRE: O 2º ATO
(Now You See Me 2)
Estados Unidos, 2016
Direção: John M. Chu
Com Jesse Eisenberg, Mark Ruffalo, Woody Harrelson, Dave Franco, Lizzie Caplan, Morgan Freeman, Daniel Radcliffe, Michael Caine, Jay Chou, Sanna Lathan, Tsai Chin, David Warshofsky
Distribuição: Paris Filmes
Parem de bobagem e envolver politica em tudo, o filme é espetacular, o espetaculo final foi de deixar o queixo caído, a certeza que você encontra nos outros filmes de que já sabe o que vai acontecer simplesmente desaparecem aqui, um dos melhores filmes do ano.
O truque do Atlas e a saída dele na chuva foi espetacular.
CurtirCurtir
Concordo. Serve para distrair. Mas deixa a desejar e não dá vontade de assistir de novo.
CurtirCurtir
Isla Fisher está grávida e não que “caiu fora”. Muito indelicado por parte da autora do texto.
CurtirCurtir
Certo Isabela. No final do filme senti como se estivesse na nossa realidade política atual . Sensação de ludibriado e que os meus trocados da carteira sumiram.
CurtirCurtir