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The Walking Dead – A Retomada da 6ª Temporada

A série segue andando, mas tenho dúvidas se está viva


Atenção: este texto está cheio de SPOILERS.


Depois de cinco temporadas excepcionais – nas quais, além de oferecer drama, ação, suspense e horror, propôs algumas ideias fascinantes sobre como se destrói e se constrói uma sociedade, The Walking Dead entrou na sua sexta temporada acenando com o que parecia ser o mais decisivo dos seus embates: os moradores de Alexandria escolheriam preservar sua segurança acima de tudo e apoiariam o estado policial de Rick? Ou prefeririam preservar sua “civilização” e apoiariam o matriarcado de valores positivos de Deanna?

TWD, porém, já entrou nesta sexta temporada pisando torto: esvaziou essa discussão para se concentrar na decisão incoerente de Rick de tocar para fora de uma pedreira próxima a Alexandria o rebanho de zumbis que estava preso ali. No final da midseason, comentei aqui no blog que se até eu sei que essa é uma ideia irracional do ponto de vista da estratégia, é certeza que também os roteiristas sabem disso – e apoiar toda a ação em um pilar bambo como esse resultou em uma sexta temporada periclitante, tão frágil como dramaturgia que tudo em TWD balançou junto com ela. Nunca houve em TWD tantos diálogos ruins, tantos conflitos forçados, tantas cenas mal filmadas (minha preferida: Rick tenta deter a invasão de zumbis com um colchão) e tanta safadeza com o público como na primeira parte da sexta temporada.

O que eu entendo por safadeza? Por exemplo, a edição malandra da cena em que Glenn “morre”, e que alguns episódios depois se revela um mero truque – o sujeito que estava por cima dele é que estava morto. TWD nunca precisou tapear o público ou recorrer a esse tipo de desonestidade para criar suspense. Mas, pelo jeito, agora tomou gosto pela coisa, e no primeiro episódio da retomada fez isso de novo – e pior. A ultimíssima cena da midseason, aquela em que Rick, Michonne e outros caminham cobertos de vísceras entre um mar de zumbis, foi um dos melhores cliffhangers da série: enquanto eles tentavam se manter em silêncio absoluto, o traumatizado garoto Sam perdia o controle e começava a chamar pela mãe. Portanto, à meia-noite e 15 de domingo, eu estava diante da TV pronta para um daqueles pesadelos formidáveis de TWD, como a cena que uniu as duas metades da segunda temporada – aquela em que o celeiro de Hershel se abria.

À meia-noite e 16, porém, eu já estava indignada: mais um alarme falso pilantra. E os quarenta minutos que se seguiram foram igualmente desanimadores. A solução rasteira para eliminar Sam & família, os lugares-comuns das lições de vida de Glenn para Enid, a fuga sem pé nem cabeça do Lobo com a dra. Denise (incluindo-se aí a péssima atuação de Merritt Wever, que foi sempre uma das melhores coisas de Nurse Jackie) – é difícil decidir o que foi pior no episódio. Ou se não seria o caso de, do roteiro à direção, considerar tudo uniformemente ruim. Parecia um daqueles episódios chinfrins de 24 Horas, em que os roteiristas vão tomar um café e deixam tudo na mão de um comitê de meninos de 5 anos (você tem irmão, filho ou sobrinho? Então sabe como são aquelas histórias: “E aíííí, então, veio o leão da montanha e…. E aíííí a moça empurrou os zumbis e….”. Foi igualzinho).

Não faço ideia do que terá acontecido: se houve alguma mudança na equipe de TWD, se alguém veio com uma pesquisa irresponsável que diz que o público prefere assim, ou se chegou-se afinal naquele momento quase inevitável em que uma série perde o rumo (e também a compostura, neste caso). Achei que o hiato de quase três meses serviria para corrigir o que ia mal na sexta temporada. Mas, ao que tudo indica, os responsáveis não acham que algo ia mal. Pois vai. De mal a pior.

2 comentários em “The Walking Dead – A Retomada da 6ª Temporada”

  1. Eu gostaria mesmo de saber quais foram esses “episódios chinfrins de ’24 Horas’, em que os roteiristas vão tomar um café e deixam tudo na mão de um comitê de meninos de 5 anos”, porque : 1) TODOS os episódios de “24 Horas” são escritos pela mesma equipe de roteiristas. Por isso nunca houve furos nos roteiros. Jamais se encontraram incoerências ou quedas no nível de inteligência, ou no realismo dos argumentos. 2) Até os críticos que mais odeiam a série reconhecem que o encadeamento e concisão das tramas e sub-tramas de “24 Horas” são PERFEITOS, em que cada minúcia se presta ao enredo principal e todos os novelos se cruzam. Portanto, não há momentos mortos, nem tempo desperdiçado ou soluções frágeis. 3) O segundo ponto é consequência do primeiro: se um elo da cadeia enfraquecesse, toda a corrente se despedaçaria. E no entanto “24 Horas” chegou a 9 temporadas como a única série da História da TV em que cada temporada é ainda melhor que as anteriores, com um fã-clube mundial cada vez mais forte e uma audiência SEMPRE crescente. Por isso nenhum fã de “24 Horas” JAMAIS se decepcionou com um episódio sequer ou fez críticas tão desapontadas como a do Álvaro aí acima sobre “The Walking Dead”. 4) “24 Horas” também é a única série que só foi ameaçada de cancelamento e teve a produção suspensa por anos devido aos inúmeros processos judiciais milionários movidos por entidades políticas ou religiosas (islâmicas, é claro), daí foi cancelada… e ainda assim, após um hiato de 4 anos, retornou com força total POR EXIGÊNCIA DO PÚBLICO. Tanto que o primeiro episódio da última temporada bateu recordes de audiência. Em VÁRIOS países. 5) Tem certeza que você não errou o canal e assistiu episódios de “Lost” por engano?

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  2. Isabela, na minha opinião a série já vinha caindo de qualidade desde a quarta temporada. Mas nessa alguém realmente caprichou na fuleiragem. Aquele “problemão” causado pela bendita buzina e ninguém teve a ideia de tocar outra buzina em outro lugar qualquer (fora outras soluções igualmente simples e óbvias). Lembrei daquela novela na qual a mocinha guardava todas as provas contra a vilã num único pendrive rsrsrs. Não sei quem tem mais preguiça: os roteiristas, de escreverem algo realmente interessante, ou eu, de continuar assistindo a série.

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