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A Garota Dinamarquesa

Dois grandes atores, uma boa história – e um filme que começa bem mas termina aguado

Por que alguns atores não impressionam da primeira vez que a gente os vê (nem da segunda, nem da terceira vez) e então, repentinamente, começa-se a achá-los especiais? Eles aprenderam a usar suas qualidades, ou a gente é que aprendeu a percebê-las? Em A Garota Dinamarquesa, temos dois casos desses de uma vez só: a sueca Alicia Vikander, que perdeu feio na comparação ao contracenar com Mads Mikkelsen em seu primeiro grande papel, em O Amante da Rainha, mas se mostrou excelente em Ex-Machina, O Agente da U.N.C.L.E. e Juventudes Roubadas; e o inglês Eddie Redmayne, que pareceu pálido e sem convicção em um punhado de trabalhos antes de começar a convencer, em Os Miseráveis – e de arrasar, em A Teoria de Tudo. Tanto Alicia quanto Redmayne são atores de imensa expressão física, e ambos fazem belíssima figura em A Garota Dinamarquesa (ela ainda mais do que ele).

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O filme do diretor inglês Tom Hooper (de O Discurso do Rei e Os Miseráveis) é inspirado no romance de mesmo nome do americano David Ebershoff – que por sua vez se inspira de maneira bem livre e solta, com muitas licenças ficcionais (e muita descomplicação dos fatos verídicos), na história do pintor dinamarquês Einar Wegener, que na década de 20 foi um transgênero pioneiro e passou a ser Lili Elbe – uma transformação dramática não só para ele, mas também para sua mulher, a artista Gerda Wegener. A primeira metade do filme é muito boa: Einar e Gerda têm um casamento vivo e sólido que, no entanto, entra em curto-circuito a partir do momento em que Lili faz sua primeira aparição. Einar cada vez mais quer ser Lili; na verdade, sente que sempre foi Lili, embora não soubesse disso. Gerda quer ajudá-lo, mas naturalmente quer também impedi-lo; quer compreendê-lo, mas está cada vez mais confusa; e quer reconquistá-lo, mas agora tudo aquilo que sempre a tornou atraente para ele – a delicadeza, a feminilidade, a fibra, o jeito brincalhão – é o que não mais o atrai.

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Alicia e Redmayne fazem um trabalho soberbo de construção física dos seus personagens e de reação um ao outro. Mas Tom Hooper é um diretor que só gosta dos conflitos aos quais possa dar alguma solução, e a segunda parte do filme, quando todo mundo já aceitou o que tinha de aceitar e acompanha-se o caminho de Lili para se tornar inteiramente Lili (o que inclui cirurgias rudimentares e brutais), é um bocado mais pobre. A rigor, essa parte não passa de um melodrama, e a interpretação de Redmayne fica tão carregada de trejeitos que em alguns momentos chega a ser ligeiramente constrangedora. Imagino que não deva ser fácil, para alguém que sempre viveu como homem, aprender a ser mulher, e acho interessante essa ideia de que a pessoa comece por copiar modos e comportamentos. Comece é a palavra-chave: aqui,quanto mais Lili se transforma, menos autêntica parece. Depois de um início vigoroso, portanto, A Garota Dinamarquesa vai ficando cada vez mais fraco e aguado – e o final, esse é coisa de novelão dos anos 50.


Trailer


A GAROTA DINAMARQUESA
(The Danish Girl)
Inglaterra/Estados Unidos/Bélgica/Dinamarca/Alemanha, 2015
Direção: Tom Hooper
Com Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Matthias Schoenaerts, Sebastian Koch, Ben Whishaw, Amber Heard
Distribuição: Universal

5 comentários em “A Garota Dinamarquesa”

      1. engraçado é q mesmo sabendo que existem outras pessoas q fazem critica de cinema,tbm de bom nível,eu procuro primeiramente o seu comentário.mesmo tendo não gostado de alguns filmes elogiados por vc,como por exemplo o ultimo Dracula e lucy, quem eu mais gosto de ouvir é você.,.seguindo a maxima de que a primeira impressão é a que fica, fui pego de uma maneira muito forte quando vi pela primeira vez sua opiniao atravez do encantador El Secreto DE Sus Ojós ..foi para mim uma especie de uma importante aula de cinema, com riquissima explicaçao de que nada na vida nada é mesmo por acaso. E eu que desde El hijo De La Novia ,sou uma fãnzaço do cinema argentino , com seus roteiros de altíssima qualidade,como vc sempre gosta de ressaltar. enfim,é isso; muito massa o seu jeito amplo e imparcial de falar sobre os filmes.

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