Banal e confuso, “Godzilla II” não é para quem ama monstros

Fotografia escura, montagem confusa, personagens sem graça e história tola se unem para matar a beleza terrível das criaturas do cinema

Numa de suas músicas, chamada Cheepnis, o fabuloso Frank Zappa declarava adorar filmes de monstro (eu também adoro), e dizia: “Quanto mais baratos, melhores eles são”. Zappa estava coberto de razão. Assista ao Godzilla original, de 1954 (está disponível no Looke e no YouTube, inteiro e também em clipes), que é uma materialização do trauma nuclear japonês com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, e comprove: nas mãos de um diretor imaginativo e que sabe o que está fazendo, como Ishiro Honda, umas tantas maquetes mais umas miniaturas e marionetes e um sujeito numa roupa de borracha ainda hoje são capazes de causar muito mais assombro – e prazer, e terror – do que coisas sem alma, sem ideias e sem sentimentos como o Godzilla de 2014 e esta continuação que estreia agora, Godzilla II: Rei dos Monstros. Filmes como os muitos Godzillas japoneses e os outros feitos com o elenco de monstros que o estúdio Toho foi inventando (Mothra, Gamera, Rodan, Ghidora etc.) servem para espantar, causar admiração e lembrar a plateia da insignificância humana diante das forças às vezes furiosas e incontroláveis da natureza – mais ainda aquelas que nós mesmos, por arrogância ou ignorância, libertamos. É o que faz Círculo de Fogo (2013), de Guillermo de Toro, aparentemente o último filme de monstro bacana do cinema. Definitivamente, não é o que faz Godzilla II, que esconde seus monstros numa fotografia escura e uma montagem confusa, e põe seus personagens banais para tratar essas criaturas de beleza terrível como se fossem seus brinquedos. Para quem ama monstros, é só tristeza.

Assista a seguir o vídeo com a resenha:

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