O Sequestro, Esta É a Sua Morte e O Assassino: O Primeiro Alvo

Por que filmes assim não vão direto para o DVD ou o streaming?

Não é fácil colocar um filme nos cinemas hoje em dia, ainda mais em um circuito tão espremido quanto o brasileiro: custa caro, é difícil achar data e sala, a concorrência com títulos mais vistosos é braba. Por isso mesmo sempre me pergunto quem é que sustenta filmes como estas três estreias da semana pelo tempo que eles passam em exibição. Desavisados, talvez? Gente procurando duas horas de ar-condicionado no meio da onda quente? Espectadores que fazem questão de ver absolutamente tudo que está em cartaz, ou que ganharam ingresso numa promoção?

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O Sequestro

Dessas três estreias nada memoráveis, a que talvez mais divirta é O Sequestro, que já vem com título autoexplicativo. Halle Berry é Karla, uma garçonete de lanchonete brigando pela guarda do filho com o marido que a deixou por outra, e que pode pagar advogados bem melhores. Durante um passeio no parque de diversões, ela vira as costas durante dois segundos, e o garotinho é levado. Karla entra na sua van família e sai chispando atrás do carro dos sequestradores pelas estradas que cortam as várzeas e pântanos da Louisiana. O carro dos bandidos não tem placa. O sinal do celular some a toda hora. Os dois veículos em perseguição provocam vários acidentes, mas a polícia nunca aparece ou, quando aparece, é de uma incompetência desastrada. Nenhum outro motorista na estrada ou transeunte nas ruas estranha as barbaridades que os dois carros fazem. E Karla aprende todos os truques da direção ofensiva em coisa de 20 minutos. Mas, se você não perder a paciência com esses furos, pelo menos a coisa toda é movimentada, e Halle Berry dá o sangue.

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Esta É a Sua Morte

Esta É a Sua Morte extrapola no coeficiente de absurdo. Josh Duhamel é Adam, apresentador de um reality show tipo The Bachelor que se vê no meio de um desastre ao vivo: a noiva rejeitada mata a tiros a noiva escolhida antes que alguém possa dar pelo que está acontecendo. Adam comete sincericídio durante o noticiário, dizendo que isso é mesmo o que se pode esperar da exploração e incitação dos realities, e acha que sua carreira acabou ali. Mas a produtora vivida por Famke Janssen tem outra ideia: fazer um programa em que as pessoas se suicidem ao vivo (e diante de uma plateia) por uma “boa causa” – deixar o dinheiro do prêmio para a família, por exemplo. Sucesso absoluto. E, à medida que a coisa escala, Adam cada vez mais perde o caráter e a alma. Quem dirige é Giancarlo Esposito, o maravilhoso Gus Fring de Breaking Bad, e não faço a menor ideia de como ele foi parar nessa roubada. Nem vamos entrar no assunto das múltiplas e infindáveis chicanas do roteiro para pôr um programa como esse no ar: mesmo como sátira ou “denúncia”, aventar a ideia de que existe “boa causa” ou benefício em um suicídio é de um mau gosto acachapante demais para encarar.

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O Assassino: O Primeiro Alvo

O Assassino: O Primeiro Alvo, por outro lado, sofre do problema oposto, o de não ter nada que o distinga; até o seu mau gosto é o de sempre. Rapaz (Dylan O’Brien, de Maze Runner) pede a namorada em casamento na praia, e ela aceita feliz,. Enquanto ele vai buscar um drinque para celebrar, terroristas chegam num barquinho e passam fogo em todo mundo, inclusive na mocinha. Rapaz, revoltado e traumatizado (e não se pode tirar a razão dele), passa os dois ou três anos seguintes virando uma espécie de Navy Seal autodidata – aprende árabe e estuda o Corão para se infiltrar nos chats de aliciamento, treina combate, tiro, manejo de armas brancas etc. É tão eficiente que consegue ficar cara a cara com um terrorista que está entre os mais procurados, e acaba recrutado por um grupo de operações secretas da CIA liderado de maneira inflexível por Michael Keaton. Segue-se muita passação de fogo de parte a parte, de Londres a Istambul e Budapeste. O título nacional sugere que andam pensando em sequência, já que se baseia numa série que anda lá pelos quinze livros. Pois inclua-me fora dessa. As locações são variadas mas não necessariamente bem aproveitadas, a ação fica no chinelo perto do que se vê em filmes recentes, e os diálogos são um pavor (“Meu erro foi confiar em você”, diz Taylor Kitsch, o pupilo de Keaton que virou mercenário/psicopata). Em suma, igual a tantas centenas de filmes feitos antes com Chuck Norris, ou Steven Segal, ou Jean-Claude Van Damme, ou Mark Dacascos. Mas esses, pelo menos, a gente encontrava direto na locadora.


Trailers


O SEQUESTRO
(Kidnap)
Estados Unidos, 2017
Direção: Luis Prieto
Com Halle Berry, Sage Correa, Chris McGinn, Lew Temple
Distribuição: H2O

ESTA É A SUA MORTE
(This Is Your Death/The Show)
Estados Unidos, 2017
Direção: Giancarlo Esposito
Com Josh Duhamel, Famke Janssen, Sarah Wayne Callis, Giancarlo Esposito, Caitlin Fitzgerald, James Franco
Distribuição: Cineart

O ASSASSINO: O PRIMEIRO ALVO
(American Assassin)
Estados Unidos, 2017
Direção: Michael Cuesta
Com Dylan O’Brien, Michael Keaton, Sanaa Lathan, Taylor Kitsch, David Suchet
Distribuição: Paris Filmes

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