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Entrevista com Frank Marshall

“Você tem um palpite? Spielberg sempre quer ouvir”, diz produtor de O Bom Gigante Amigo

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Frank Marshall, Kathleen Kennedy e Steven Spielberg

Quer saber como é ser um bambambã? Pergunte ao produtor e diretor Frank Marshall. Nesta semana, dois filmes produzidos por ele estão estreando no Brasil: Jason Bourne e O Bom Gigante Amigo – este em parceria com o velho amigo Steven Spielberg, com quem Marshall compartilha quarenta créditos desde os anos 80 (e quando não era Marshall o produtor de Spielberg num filme, em geral era porque sua mulher, Kathleen Kennedy, hoje a manda-chuva da Lucasfilm, é que estava exercendo a função). Marshall também produziu a trilogia De Volta para o Futuro e trabalhou com Martin Scorsese, David Fincher, M. Night Shyamalan (nos bons tempos do diretor)… Ultimamente, produz direto para Clint Eastwood. Mas, da mesma forma que Spielberg e que Kathleen (já tive a sorte de entrevistar os dois várias vezes), nada disso lhe sobe a à cabeça: quem é bom de verdade não faz onda, trabalha, e Marshall é uma simpatia. Nesta entrevista, além de contar como foi fazer O Bom Gigante Amigo, ele desejou sorte ao Brasil com as Olimpíadas e gentilmente amenizou o caos que vem precedendo os Jogos: “Fui do comitê dos Jogos de Los Angeles e garanto que é assim em todo lugar – muito stress e bagunça até o último minuto, mas na hora tudo dá certo”. Então tá, Frank. Se você diz, vou tentar acreditar.


Em O Bom Gigante Amigo, vocês aderem muito fielmente aos sabores estranhos da história do escritor Roald Dahl. Isso em algum momento foi motivo de preocupação para Spielberg ou para você?

Na verdade, fizemos questão de abraçar por completo o mundo em que Dahl joga você: tudo que há de estranho ou de encantador nele. De fato, ele tem elementos bem mais sombrios ou ameaçadores do que é hábito nas histórias para crianças – mas preserva também a atmosfera do conto de fadas.

Vocês já haviam decidido desde o início que iriam mesclar live action e captura de desempenho?

Não! Quando iniciamos o projeto, não tínhamos a menor ideia de como executá-lo. Sabíamos que não queríamos fazer uma animação. Mas como contar essa história em live action… Quebramos a cabeça por um bom tempo. E aí, nos últimos seis ou sete anos, a tecnologia da captura de desempenho de repente chegou no ponto em que precisávamos, e virou uma opção. Aliás, a única opção. Foi enquanto fazíamos As Aventuras de Tintim que Steven teve o estalo: claro, nada melhor do que fazer os gigantes em captura de desempenho.

E aí Mark Rylance apareceu na vida de vocês.

Foi uma sorte danada Mark entrar no elenco de Ponte dos Espiões – em todos os sentidos imagináveis.

Ele se acostumou rápido com a captura de desempenho? Alguns atores passam por um período difícil de ajuste ao trabalho.

Mark pegou o jeito da coisa de primeira. Tem gente que fica incomodada com a roupa especial, e as minicâmeras, e os sensores, mas ele não deu a mínima para nada disso. E veja que ainda por cima ele passava a maior parte do tempo empoleirado numa plataforma a 6 metros de altura, porque afinal ele é um gigante. O que torna a captura de desempenho uma opção tão boa, hoje em dia, é que dá para reproduzir a interpretação do ator com muito realismo. Na verdade, o segredo – como sempre – está nos olhos. Antes, os olhos “entregavam” o jogo. Agora, você consegue preservar toda a expressividade específica do ator que está fazendo o papel. E aí a coisa subitamente parece mágica.

O que mais me impressionou foi a consistência da expressividade dos olhos: não há um instante sequer em que a fisionomia do BGA se desvie da de Mark Rylance. Trabalhar assim com um personagem humano é mais desafiador, imagino, do que animar criaturas?

É um trabalho delicadíssimo dos animadores esse de transportar a expressão do ator, em todas as suas minúcias infinitas, para o personagem animado. De três ou quatro anos para cá a captura se tornou mais sensível, e portanto passou a oferecer mais material para os animadores. Mas que não reste dúvida: essa fidelidade e essa nuance que eles conseguiram no BGA é resultado antes de mais nada do brilhantismo desses profissionais. Acredito que esse desempenho vai ser um marco na tecnologia.

Aquele cantinho de Londres em que fica o orfanato de Sophie, ele existe mesmo ou foi inventado?

Não, não é inventado: usamos fotografias atuais e de época para construir no set de filmagem um trecho do East End de Londres. Como sempre, Steven gosta de trabalhar com sets reais. Toda aquela parte do filme que se passa no Palácio de Buckingham, por exemplo, também é um set prático: os cachorros, o candelabro, a comida, tudo é de verdade. Mas, como hoje o digital tornou tão fácil combinar as coisas, podíamos ver exatamente que lugar o BGA estava ocupando na cena. Steven e eu sempre fomos grandes defensores do celulóide, mas é preciso convir que a qualidade da imagem digital avançou horrores – e que ele é mais econômico, rápido e ágil. O mundo muda, e a gente tem de mudar com ele.

Ruby Barnhill é uma graça. Mas, mesmo com toda a experiência que Spielberg tem, ainda é trabalhoso escolher a criança certa para um papel?

É sempre trabalhoso porque, com crianças, o processo é necessariamente longo. É preciso fazer uma chamada aberta para toda e qualquer criança da idade em questão, daí entrevistar algumas dezenas de selecionados, e então testar os que restam dessa fase… Mas Steven tem um instinto assombroso para achar exatamente a criança certa, a que é capaz de se imaginar no papel e também a que não vai se intimidar quando estiver cercada por cem técnicos no set. Uma coisa é fazer um belo teste com duas ou três pessoas numa sala fechada – e outra muito diferente é manter a concentração e a imaginação no meio de um monte de gente, luzes e equipamentos. Mas Steven sempre acerta. E ele nunca trata crianças como criancinhas: não fala com elas como se elas fossem bobas, mas de igual para igual, com muito respeito.

A esta altura, você e Spielberg já nem devem precisar se explicar um para o outro, não?

Nós dois sempre trabalhamos muito bem juntos porque somos personalidades complementares. Além disso, somos muito amigos fora do trabalho. Inclua nisso também minha mulher, Kathleen Kennedy. Somos os três muito unidos, muito próximos, e trocamos ideias o tempo todo. Formamos uma ótima família, na verdade. Então eu já sei muito bem o que Steven quer sem ele precisar me dizer. E também o que ele quer dos outros, porque meu trabalho como produtor é garantir que todo mundo entregue a ele o que ele precisa.

E o que Spielberg quer dos outros, além do melhor que eles têm a dar?

Sugestões, opiniões, palpites. Steven é ótimo no trabalho colaborativo e ouve qualquer um da equipe que tenha algo a dizer. Se o interesse da pessoa é tornar o filme melhor, é garantido que ela será ouvida. Mas, lógico, você está certa, acima de tudo ele espera profissionalismo e preparo total. Como todo mundo quer oferecer exatamente isso a ele, os sets de Steven são um lugar sensacional para trabalhar.

2 comentários em “Entrevista com Frank Marshall”

  1. Será que esse povo quer ouvir mesmo? Uma vez tentei enviar uma idéia de um filme (sobre cowboys) e nunca tive um retorno. Nem para dizer que a idéia era ultrapassada…rsrsr, mais gosto dessa categoria e cheguei a escrever o filme inteiro! Mas deixa pra lá….

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    1. Eu também já tentei enviar bons argumentos para esses produtores mas não consegui descobrir como chegar até eles. Alguns agentes para os quais tenho mandado os roteiros nem respondem. Não acreditam que desconhecidos possam ter ideias melhores que a de seus amigos. Aceita idéias mas não abrem nenhum canal de intercambio.

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