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Um Dia Perfeito

Filme com Benicio Del Toro que estreia amanhã é o primeiro a ser lançado simultaneamente nos cinemas e em on-demand no Brasil

Está todo mundo relaxado, dando risada. Tanta coisa já aconteceu desde a manhã – o cadáver do sujeito obeso no poço do vilarejo, a reunião surreal no quartel-general da ONU, a vaca morta no meio da estrada que poderia ou não estar escondendo uma mina, a discussão bizarra no armazém cheio de homens mal-encarados (– “Tem corda?” – “Tem, mas não tem”). E, agora, em vez de cair duro com o tranquilizante que foi injetado nas salsichas, o cachorro bravo está, se possível, ainda mais bravo. Quem é que vai ter coragem de chegar perto dele para pegar a corda que o está prendendo? Enquanto os colegas descomprimem um pouco, Mabru (Benicio Del Toro) e Sophie (Mélanie Thierry) entram na casa em ruínas à procura da bola que o menino Nikola (Eldar Residovic) tanto quer. E, passo a passo, o clima de hilariedade vai dando lugar a uma atmosfera mais pensativa – e, dela, segue para o chocante, para em seguida fazer mais uma curva fechada e retornar à comédia.

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O filme dirigido pelo espanhol Fernando Léon de Aranoa é uma pequena joia: acompanhando 24 horas na rotina (que de rotineira não tem nada) de Benicio Del Toro, Tim Robbins, Olga Kurylenko e outros integrantes de um grupo de voluntários durante o finalzinho da Guerra da Bósnia, em 1995, Um Dia Perfeito se equilibra não só com agilidade, mas também com inspiração verdadeira, entre a comédia e o drama, e entre a crônica e o surreal. O roteiro é tão bom que dá para usá-lo para dar aula de como se faz: as situações, os diálogos, o desenvolvimento dos personagens, as transições de tom – Aranoa dá um baile. Desde a primeira cena, eu estava fisgada, sem a menor ideia de onde o filme iria me levar, mas ansiosa para ser carregada por ele.

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Mas Um Dia Perfeito é o que se chama, no mercado, de um filme “de nicho”: é uma produção independente, sem o esquema de promoção dos grandes estúdios e, por isso, destinada aos circuitos mais especializados. E, no Brasil, os circuitos alternativos ou “de arte” se concentram em São Paulo e no Rio de Janeiro. Eventualmente, os títulos lançados neles alcançam também Belo Horizonte e Porto Alegre – mas raramente vão muito além dessas capitais. Aos cinéfilos que não têm acesso a essas salas, resta uma alternativa apenas: esperar que os filmes estejam disponíveis em DVD ou nas plataformas de VOD (video on-demand), o que em geral demora pelo dois ou três meses em relação à estreia nos cinemas.

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Por isso é tão interessante o experimento no qual Um Dia Perfeito vai ser pioneiro: pela primeira vez, um filme vai chegar ao mesmo tempo nos cinemas e no NOW, o serviço on-demand para assinantes da NET e da Claro. Trabalhando em conjunto, o NOW, o cinema carioca NET Estação e o distribuidor digital Sofá formaram uma curadoria, a fim de selecionar títulos que tenham vocação para ambas as formas de exibição – e cuja visibilidade possa ser multiplicada quando colocados nas duas simultaneamente. Fernando Magalhães, diretor de programação e conteúdo da América Móvil (a empresa de telecomunicações que opera as marcas NET e Claro), disse ao blog que Um Dia Perfeito é só o primeiro lançamento nesse esquema. Vários outros já estão sendo estudados, e a ideia é trabalhar com quatro títulos ao mês, em média.

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É claro que o lançamento simultâneo nunca vai ser praticado com os blockbusters do estúdios, que protegem com unhas e dentes as “janelas” de exibição dos seus filmes (os prazos para que uma produção vá do cinema para o VOD, o DVD, o cabo, a TV aberta etc.). Mas, nos Estados Unidos e alguns países europeus, os independentes já vêm se beneficiando há algum tempo dessa exibição casada, porque esses são os títulos que têm de brigar por espaço nas salas, por divulgação e por compensação financeira. No mercado americano, segundo Magalhães, cerca de 250 títulos chegam ao público nesse esquema a cada ano, e nem o VOD rouba espectadores do cinema, nem o cinema rouba do VOD – pelo contrário, um aumenta a visibilidade do outro, o que faz com que ambos rendam mais. Vale lembrar que os Estados Unidos têm cerca de 40 mil telas de cinema, e o Brasil mal bate em 3 mil. Se faz sentido lá, com esse número acachapante de cinemas, é provável que venha a fazer sentido também aqui, onde a carência de telas é tão aguda.


Trailer


UM DIA PERFEITO
(A Perfect Day)
Espanha, 2015
Direção: Fernando Léon de Aranoa
Com Benicio Del Toro, Tim Robbins, Olga Kurylenko, Mélanie Thierry, Fedja Stukan, Eldar Residovic, Sergi López, Morten Suurballe, Frank Feys, Antonio Franic
Distribuição: Esfera (cinemas) NOW (on-demand)

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