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Voando Alto

Um filme-clichê de esporte que só ganha altitude quando Hugh Jackman entra em cena

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Não sei se alguém ainda lembra de Jamaica Abaixo de Zero, uma comédia de 1993 sobre um jamaicano que, ao não se conseguir se classificar para as provas olímpicas de atletismo, arruma um treinador caído em desgraça (e existe outro tipo de treinador no cinema?) para formar o primeiro time jamaicano de bobsled da história e assim competir nas Olimpíadas de Inverno de 1988 em Calgary, no Canadá. O time jamaicano existiu mesmo – mas agora outra comédia, Voando Alto, que está estreando nos cinemas, relembra que a equipe tropical de trenó não foi a única presença inusitada dos Jogos de 1988. Outro que fez o maior sucesso na categoria relações-públicas foi o inglês Eddie “A Águia” Edwards, gesseiro de profissão e esquiador de vocação que, por causa da absoluta falta de adversários com os quais competir por uma vaga na equipe olímpica britânica, conseguiu se qualificar para o salto em distância de esqui. Desde a primeira prova, ficou claríssimo que Eddie estava muito abaixo dos outros atletas e tinha zero chance de ganhar qualquer coisa. Mas sua tenacidade – e sua felicidade por simplesmente estar ali – encantaram o público, e ele virou um fenômeno de popularidade.

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Só nos fatos mais centrais é que Voando Alto pode ser considerado uma cinebiografia. O diretor Dexter Fletcher reza pela cartilha básica dos filmes sobre azarões: quanto mais azarados eles forem, melhor – e, se for preciso exagerar ou inventar, vamos nessa. Ao final, nem um clichê sequer do filme esportivo terá ficado de fora. Isso considerando-se que a vida do verdadeiro Eddie já oferece espontaneamente uma quantidade considerável de clichês cinematográficos: Eddie nasceu mesmo destemido, e dos 10 aos 13 anos aguentou um gesso em uma das pernas por causa de uma lesão no joelho – resultado do seu estilo kamikaze de defender o gol nos joguinhos de futebol da molecada. Era de fato duríssimo; quando começou a treinar salto em distância, amarrava o capacete de segunda mão com um barbante e tinha de usar botas de esqui emprestadas, tão grandes que era preciso vestir seis pares de meias para seus pés não dançarem dentro delas. Era também muito míope e, como os óculos de grau embaçavam por baixo dos óculos de competição, ele às vezes voava literalmente às cegas. Taron Egerton, que foi muito bem no papel do pupilo de Colin Firth em Kingsman: Serviço Secreto, se esforça para fazer de Eddie algo mais que uma coleção de tiques. Mas trata-se de uma tarefa inglória. (A razão pela qual Taron aceitou o papel: Matthew Vaughn, que dirigiu Kingsman, é produtor de Voando Alto.)

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Se Voando Alto tem alguma coisa a seu favor, é Hugh Jackman, aqui no papel inventado de Bronson Peary, um ás do salto em esqui que – óbvio – caiu em desgraça, foi banido das competições e virou um alcoólatra cínico, mas reencontra a paixão pelo esporte quando começa a treinar Eddie (não sem antes relutar muito, claro). Jackman tem aquele tipo de simpatia e carisma capazes de fazer com que personagens esquemáticos pareçam cheios de vida e personalidade (confira, por exemplo, Kate & Leopold e Gigantes de Aço). Assim que ele entra em cena, o filme começa a parecer melhor do que é. Jackman é mesmo um herói: dois dias atrás, salvou seus filhos do afogamento em Bondi Beach – e agora salva Voando Alto de ficar no chão por excesso de boas intenções.


Trailer


VOANDO ALTO
(Eddie the Eagle)
Inglaterra/Estados Unidos/Alemanha, 2016
Direção: Dexter Fletcher
Com Taron Egerton, Hugh Jackman, Jo Hartley, Keith Allen, Edvin Endre, Rune Temt, Iris Berben e uma muito breve participação de Christopher Walken
Distribuição: Fox

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