Três comédias com pedigree bem diferente…
…mas todas com alto grau de satisfação.
Idiocracia, de Mike Judge, Escorregando para a Glória, com Will Ferrell e Bem-Vindo à Prisão, com Will Arnett e Dax Shepard.
Idiocracia
Do trio, esta aqui é a fundamental e imperdível. Mike Judge, criador de Beavis & Butt-Head e da escandalosamente boa Silicon Valley, já começa entornando ácido, com uma espécie de prólogo “sociológico”: enquanto os casais mais instruídos, concentrados na carreira, adiam tanto o primeiro filho que passa da hora de um filho ser possível (a “demonstração” de Judge é hilariante), o pessoal que não frequentou a escola nem o dentista se reproduz na maior alegria. De tal forma que, no futuro, depois de umas tantas gerações, a humanidade de sapiens já não tem mais nada: na burrice impenetrável que prevalece em 2505, as pessoas têm nome de salgadinho e refrigerante, a concordância pronominal virou relíquia e ninguém entende por que as plantações morrem se estão sendo regadas com deliciosos sabores de Gatorade. Ou seja: quando Joe (Luke Wilson), um sujeito de inteligência mediana que foi congelado no presente sai de sua hibernação no século 26, ele descobre que é, de longe, o indivíduo mais brilhante do planeta. Dax Shepard e Maya Rudolph têm participações maravilhosas. E este é um daqueles casos curiosos de filmes que ninguém foi ao cinema ver (no Brasil, ele saiu direto em DVD), mas que depois viraram cult.
IDIOCRACIA(Idiocracy)Estados Unidos, 2006Direção: Mike JudgeCom Luke Wilson, Dax Shepard, Maya Rudolph, Terry Crews, Justin Long
Escorregando para a Glória
Will Ferrell e Jon Heder são dois astros rivais da patinação artística que, por se atracarem em uma briga, são expulsos para sempre do esporte. Mas eis que uma brecha nos estatutos permite que eles façam uma volta retumbante ao gelo – desde que concordem em se apresentar como dupla. O espírito da coisa é o mesmo de Zoolander: Ferrell e Heder (de Napoleon Dynamite) capricham na cara de estúpidos, Will Arnett e Amy Poehler (que então eram casados) fazem um par rival de irmãos malévolos, e a dupla de diretores parodia todos os clichês, do primeiro ao último, dos romances adolescentes dos anos 80 e começo dos 90 – como Um Casal Quase Perfeito, em que D.B. Sweeney e Moira Kelly se detestam mas têm de patinar juntos (e que eu até hoje adoro assistir, confesso). Agora, a cena em que Ferrell e Heder ensaiam seu grande número é para dar aquela dor boa no diafragma de tanto rir.
ESCORREGANDO PARA A GLÓRIA(Blades of Glory)Estados Unidos, 2007Direção: Josh Gordon e Will SpeckCom Will Ferrell, Jon Heder, Amy Poehler, Will Arnett, Jenna Fischer, William Fichtner, Romany Malco
Bem-Vindo à Prisão
Hoje todo mundo (ou quase) sabe quem é Bob Odenkirk: o advogado porta-de-cadeia de Breaking Bad e de Better Call Saul. Mas, em 2006, quando dirigiu este filme (o único dos três que está disponível no Netflix), Odenkirk ainda era conhecimento especializado – roteirista premiado do Saturday Night Live, convidado regular do Larry Sanders Show e referência no meio do improviso cômico. O senso de humor absurdista que tornou seu Saul Goodman um personagem tão adorado está todo aqui: Dax Shepard (também de Idiocracia) é um ladrão pé-de-chinelo que já foi preso tantas vezes desde criança (sim, desde criança) que conhece todos os funcionários e internos do sistema prisional de Illinois pelo nome. Quando ele finalmente vai se vingar do juiz que o mandou para o xadrez todas essas vezes, o sujeito morre. John, que não é exatamente um brilho, decide que a segunda melhor alternativa é destruir o filho do juiz, o certinho Nelson (Will Arnett, também de Escorregando para a Glória), armando para que ele vá preso. Detalhe: John dá um jeito de ser preso junto com Nelson, para poder atormentá-lo. Tudo sai diferente – até amor verdadeiro nascendo no chuveiro da prisão há nesta comédia escrachadésima.
BEM-VINDO À PRISÃO(Let’s Go to Prison)Estados Unidos, 2006Direção: Bob OdenkirkCom Dax Shepard, Will Arnett, Chi McBride, Dylan Baker, Michael Shannon, Amy Hill