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Segunda Chance

Susanne Bier não quer ser sutil. Quer pegar na veia.

A diretora dinamarquesa Susanne Bier faz filmes como quem monta um fórum de discussão: há sempre um grande impasse moral no centro da trama, que então se desenrola de forma a propor uma pergunta ao espectador – e você, se estivesse no lugar deste personagem, o que faria?

Veja-se o caso do policial Andreas (Nikolaj Coster-Waldau) em Segunda Chance. Andreas mora numa bela casa, de frente para um lago. É apaixonado pela mulher, Anna (Maria Bonnevie). E está em estado de graça com o filho recém-nascido: mal pode acreditar que exista algo tão perfeito. Na verdade, lá no fundo, Andreas sabe que nada pode ser assim perfeito. O mundo em que ele circula todos os dias, no trabalho, é de uma miséria humana e material avassaladora. Seu parceiro, Simon (Ulrich Thomsen), está em choque com seu divórcio, e anda ensaiando um suicídio passivo – de coma alcoólico ou numa das brigas que provoca. Em casa, de noite, o bebê chora sem parar, e os nervos de Anna estão à flor da pele. Por mais que Andreas tente fingir não ver os sinais de que algo vai mal, eles estão lá.

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Essa sensação de caos se precipita quando Andreas e Simon dão uma batida no apartamento de um velho freguês da delegacia, o traficante Tristan (Nikolaj Lie Kaas). Tristan espanca sua namorada, Sanne (May Andersen), os dois se drogam sem parar e, escondida dentro de um armário, está a vítima maior desse horror – um bebê de poucas semanas, coberto nas próprias fezes e quase morto de frio e de fome. Andreas acha que salvou a criança; mas a Vara de Família pensa diferente, e o bebê é devolvido aos seus pais biológicos. Algo terrível, então, acontece na casa de Andreas, e ele decide que existem maneiras de tornar certo tudo aquilo que está errado – na sua vida e na de Tristan e Sanne.

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A primeira grande questão de Susanne Bier, portanto, é essa: se o certo é completamente ilegal, ele ainda assim pode ser certo e justo? A segunda questão é: o espectador se vê fazendo o mesmo que Andreas? A terceira questão, porém, só vai se delinear lá na frente – mas é a maior de todas: será que Andreas está enxergando os erros onde de fato eles estão?

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Há quem ache os dramas morais de Susanne exagerados, ou forçados, ou esquemáticos, e não tiro a razão de quem pensa assim: ela tem mão pesada mesmo. (Aliás, foi na tentativa de dar uma cotovelada em Susanne, sua ex-companheira de Dogma, que Lars von Trier se meteu naquela baita confusão em Cannes, dizendo que “compreendia Hitler”.) Mas, para mim, esse jeito contundente de Susanne funciona muito bem em pelo menos quatro filmes: Brothers, Depois do Casamento (ambos feitos quando ela ainda era do movimento Dogma), Em um Mundo Melhor e neste Segunda Chance. A intenção dela não é a sutileza – é pegar na veia.


Trailer


SEGUNDA CHANCE
(En Chance Til)
Dinamarca, 2014
Direção: Susanne Bier
Com Nikolaj Coster-Waldau, Ulrich Thomsen, Maria Bonnevie, May Andersen, Nikolaj Lie Kaas
Lançamento: Califórnia

Uma consideração sobre “Segunda Chance”

  1. Quando assisto um filme da Susanne Bier eu tenho consciência que vou conferir um melodrama..”Segunda Chance” tem todas as caracteristicas de “Depois do Casamento” e “Em Um Mundo Melhor”.A história toma um contorno bem melodramatico(digno de novela),mas o resultado final é satisfatório.E concordo em relação as discussões morais que ela propõe em seus filmes.

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