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Ben-Hur

Refilmar é pecado ou não é?


Veja aqui a vídeo-resenha


Com tudo que o cinema se pretende espetacular hoje em dia, o Ben-Hur de 1959 ainda é uma experiência única: são três horas e meia de saga com milhares de figurantes, muito saiote romano e sandália de couro, um baita clima (erótico, inclusive – ou, mais precisamente, homoerótico), a canastrice inimitável de Charlton Heston e cenas antológicas, que comprimem drama e ação com habilidade extraordinária. Ben-Hur foi indicado a doze Oscar e ganhou onze, um recorde que só seria igualado quase quatro décadas mais tarde, por Titanic (e depois, de novo, por O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei). Então é um pecado que o diretor Timur Bekmambetov o tenha refilmado, certo?

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Errado. Não há pecado nenhum. Por mais que doa dizer isso, a maior parte da plateia jovem de hoje não vai passar nem perto de um filme de 1959 cujas qualidades, para ser apreciadas, exigem que se dê um desconto aos seus aspectos mais antiquados – por exemplo, as atuações. Na verdade, talvez a nova refilmagem atice a curiosidade de um ou outro espectador pelo filme de 1959. Segundo: o filme do diretor William Wyler já era ele próprio um remake. Ben-Hur tivera duas grandes encarnações no cinema mudo, mas Wyler sabia que, com Technicolor e Panavision, poderia fazer um espetáculo muito mais grandioso do que o que já fora oferecido até então. O raciocínio de Bekmambetov é parecido: com as câmeras digitais leves e ágeis e as gruas que filmam a ação por ângulos antes inacessíveis, a sequência-clímax da corrida de quadrigas ficou um estrondo. Tanto que tem o dobro da duração da sequência filmada por Wyler.

divulgaçãoTerceiro, e decisivo: o Ben-Hur de 1959 não é cinema “de autor”. William Wyler foi um talento de primeira grandeza, mas fazia superprodução de estúdio, para lotar sala de cinema e vender muito ingresso. O dia em que alguém anunciar que vai refazer O Poderoso Chefão, Taxi Driver ou A Laranja Mecânica, vou sapatear nas tamancas, porque a qualidade autoral do cinema de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Stanley Kubrick é insubstituível. É como alguém dizer que vai pintar um novo Michelangelo. Mas não é esse o caso de Ben-Hur. Principalmente, não é este o caso do novo Ben-Hur: com muita sensatez, Bekmambetov nem tenta competir com o “original” de 1959. Ele troca o épico pela ação, substitui a nota triunfante pelo tom conciliador, simplifica a história e faz um filme seu. É bem mais modesto, mas não é cópia. Às vezes, quando o adversário é muito formidável, fugir da briga não é vergonha – é a única tática possível.

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Assista aqui as entrevistas que fiz com os atores Jack Huston e Rodrigo Santoro


13 comentários em “Ben-Hur”

  1. Uma desgraça esse Ben Hur. É uma ofensa ao de 1959 e ao livro. Aqui metade é inventado e não é fiel ao livro. Ben Hur não é casado, aqui é. Ben Hur escapa dos grilhoes pq salva um romano poderoso aqui ele aparece em uma praia . É tudo falso nessa pobre refilmagem . A corrida que Isabela elogiou é um lixo com todos os recursos de hoje a de 1959 da de 100 nessa. Lixo dinheiro jogado fora ,o do ingresso .

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  2. Passada esta temporada de férias que reinaram as adaptações dos quadrinhos e as animações era de esperar ansioso por filmes que não se enquadrassem a essas categorias, deixando que o cinemea europeu, mais precisamente o francês, preenchesse esse vazio que ficou nessa temporada. Eis que surge a releitura de Ben-Hur, porém o resultado é aquém do esperado. As atuações são apáticas e inexpressivas, Morgan Freeman se repete no mesmo papel, Rodrigo Santoro mostra que vem estudando para conseguir seu espaço no cinema americano. Não há inovação nos planos de filmagem, algo que já vimos em filmes medianos como Tróia. Mesmo com os recursos tecnológicos que se dispõem nos dias atuais ainda assim o Ben-Hur de 59 continua se destacando. O que dizer do final? Lembrou muito final das novelas brasileiras. Uma pena que as grandes obras ficam reservadas para o final do ano já que antecedem as premições. Então devemos aproveitar nesse período o cinema europeu, séries de TV,…

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  3. Na época que Ben-Hur foi feito, não mostraram o rosto de Jesus, pois não achavam que alguém fosse digno de tal…Me recuso a ver esse, já posso imaginar, desastre à vista.

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    1. Exato, essa é uma peculiaridade que a platéia de 1959 entendia bem e admirava. Hoje TUDO deve ser mostrado. Vide o cinema de terror da época e o de hoje.

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  4. Um crime : não se mexe em ícones da estória cinematográfica. Não atribua ao filme de 1959 predicados detupardos atuais . Respeitamos os gostos dos críticos . Pela quantidade de Óscares ganhos a excelência da filme de 1959 fala por si só

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  5. Ben Hur é de 1959/1960. Mesmos anos de Psicose e Hiroshima Meu Amor.

    Concordo que “a maior parte da plateia jovem de hoje não vai passar nem perto de um filme de 1959”.

    O quer diz muito sobre a tal platéia.

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  6. refilmar não é o problema, o problema esta quando o material original é totalmente ignorado gerando algo muito aquém do original, como vingador do futuro ou mesmo o infame caça fantasmas 2016 que não só é um filme terrivelmente fraco, como também propaganda de movimento social falido, abusando de misandria e um forte ódio ao sexo masculino ao retratar homens ou como extremamente burros ou extremamente canalhas, mas graças a Deus essa adaptação sofrível do caça fantasmas muito provavelmente puxara o freio de filmes ativistas tendo em vista o prejuízo de mais de 70 milhões esperado pela sony

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  7. Clima homoerotico no ben-hur de 1959? Tá de brincadeira ne? Acho que a história original queria dar esse tom, mas no filme esse suposto “clima” não existiu. Não viaja.

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    1. Não, senhor. É tudo verdade. Preste atenção no momento em que Messala e Bem fazem um brinde com taças de vinho nas mãos entrelaçadas um do outro, com os dois se olhando beeem no fundo dos olhinhos, com aquele olhar enternecido / entusiasmado. Não é viagem, é fato: o próprio roteirista Gore Vidal avisou pro diretor William Wyler; “Não deixe o Charlton saber nem perceber nada! Senão ele não vai fazer a cena desse jeito!” Foi o único caso em que um ator NÃO conheceu seu personagem e fez uma cena com duplo sentido sem perceber.

      https://pt.wikipedia.org/wiki/Gore_Vidal

      “Vidal afirmou mais tarde no documentário The Celluloid Closet que, para explicar a animosidade entre Ben-Hur e Messala, ele tinha inserido um subtexto gay, sugerindo que os dois tinham tido um relacionamento anterior, mas que o ator Charlton Heston não sabia de nada sobre este assunto.”

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  8. Espero que não seja parecido com as novelas ridículas e mentirosas da Record. Na realidade na minha opinião o cinema americano esta precisando de uma nova classe de roteiristas, pois os de hoje estão decepcionando a cada filme, se não for pelo marketing acho que os cinemas ficaram vazios.

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  9. Amanhã verei o novo Ben-Hur, mas, sinceramente, não consigo imaginar que seja melhor que o filme de 1959, com Charlton Heston. Este, aliás, na minha opinião, é um dos melhores filmes já produzidos pelo cinema americano, e que faz parte da minha coleção pessoal de dvds. É épico de verdade.

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    1. Cara, podem me chamar de patrioteiro ou algo assim, mas eu não vou negar: a cena que eu mais gostei no trailer é quando o nosso Rodrigo Santoro põe a mão no ombro do Bem-Hur e diz AQUELAS palavras: “Deus tem um plano para você.”

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      1. “Deus tem um plano para você.” emocionante. No filme original Jesus Cristo é somente um coadjuvante e nem aparece o rosto, neste o Jesus (Rodrigo Santoro) é até parecido ao rosto do Sudário de Turim (descontando os ferimentos).

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