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Robôs

Feitos de lata, mas com alma

Robôs, co-dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, marca mais um ponto para o time do desenho animado

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A cena do nascimento de Rodney Lataria é um desses momentos destinados a entrar para a história da animação: transbordando de felicidade, o casal Lataria encaixa peças, aperta parafusos, rebita juntas e, com seu bebê-robô finalmente já nos braços, percebe que se esqueceu de parafusar nele uma pecinha. “Querida, não tínhamos encomendado um menino?”, pergunta o pai, espiando dentro da fralda de Rodney. Líder inconteste até o momento no segmento dos desenhos animados 3D, a Pixar de Os Incríveis acaba de ganhar concorrência à altura: Robôs, produzido pela Blue Sky, o ateliê de animação do estúdio Fox, é um feito de inspiração e competência tão surpreendente, hoje, quanto Toy Story foi há dez anos.

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Num mundo habitado por robôs de todos os tipos e gerações, o pequeno Rodney cresce ganhando peças de segunda mão de seus primos, já que a família Lataria não é exatamente próspera, e sonha tornar-se um grande inventor. O pai de Rodney, que queria ser músico mas virou máquina de lavar pratos para garantir o sustento da casa, incentiva o filho a ir fazer sua própria sorte na cidade grande — e lá o rapaz descobre que robôs como ele e seus amigos, meio remendados, com pontos de ferrugem e pintura lascada, estão com os dias contados. A ordem agora é fazer “upgrades”, e quem não tiver dinheiro para comprá-los e se transformar num robô aerodinâmico e reluzente que se prepare para terminar no ferro-velho.

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Dirigido pela mesma dupla de A Era do Gelo — o americano Chris Wedge e o brasileiro Carlos Saldanha —, Robôs representa um gigantesco salto de ambição em relação àquele esforço anterior. E um salto também de realização: “Acho que ainda não temos a força e a originalidade narrativas que a Pixar demonstra, mas afirmo sem medo que nosso trabalho de animação, iluminação e textura é o melhor do mercado”, diz Saldanha. O diagnóstico é preciso, exceto por uma omissão: graças em grande parte ao talento do brasileiro, a Blue Sky é também uma especialista em criar seqüências de ação sem rivais.

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É da autoria de Saldanha (que vai assinar sozinho a direção de A Era do Gelo II) o curta-metragem indicado ao Oscar Gone Nutty, em que o esquilo Scrat acidentalmente provocava a divisão dos continentes, e é cria dele também uma das cenas mais atordoantes de Robôs, na qual Rodney viaja pelo complicadíssimo sistema de transporte de Robópolis. Inspirada nas esculturas cinéticas do artista plástico americano Rube Goldberg (1883-1970), a seqüência é um delírio — mas um delírio impecável tanto do ponto de vista da animação quanto do da física (ou patafísica, como o irreverente Goldberg preferiria).

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Como qualquer bom filme, porém, Robôs é mais do que a soma de suas partes. Da excelente dublagem de atores como Ewan McGregor e Robin Williams (não custa recomendar que se assista à versão original) à delicadeza de personagens como o pai de Rodney e Tia Turbina, uma senhora cujo traseiro só é menor do que seu coração, o trunfo do desenho bolado por Wedge, Saldanha e pelo escritor e artista William Joyce é a habilidade com que ele equilibra os aspectos técnicos e criativos em prol do enredo. Robôs trata de um mundo feito de lata e parafusos, mas o que não falta a ele é alma.

Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 16/03/2005
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2005

ROBÔS
(Robots)
Estados Unidos, 2005
Direção: Carlos Saldanha e Chris Wedge
No original, com as vozes de Ewan McGregor, Robin Williams, Dianne Wiest, Halle Berry, Mel Brooks, Jim Broadbent, Paul Giamatti, Stanley Tucci, Jennifer Coolidge, James Earl Jones, Jay Leno, Greg Kinnear

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